quinta-feira, 29 de abril de 2010

ANTÓNIO JOSÉ de ALMEIDA

Reis, Rainhas e Presidentes de Portugal

ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA














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António José de Almeida
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Um dos mais populares dirigentes do Partido Republicano, desde muito novo manifestou ideias republicanas.
Era ainda aluno de Medicina em Coimbra quando publicou no jornal académico Ultimatum um artigo que ficou famoso, intitulado «Bragança, o último», que foi considerado insultuoso para o rei D. Carlos. Defendido por Manuel de Arriaga, acabou condenado a três meses de prisão.
Depois de terminar o curso, em 1895, foi para Angola e posteriormente estabeleceu-se em S. Tomé e Príncipe, onde exerceu medicina até 1903. Regressando a Lisboa nesse ano, foi para França onde estagiou em várias clínicas, regressando no ano seguinte. Montou consultório, primeiro na Rua do Ouro, depois no Largo de Camões, entrando então na política activa.
Foi candidato do Partido Republicano em 1905 e 1906, sendo eleito deputado nas segundas eleições realizadas neste ano, em Agosto. Em 1906, em plena Câmara dos Deputados, equilibrando-se em cima duma das carteiras, pede aos soldados, chamados a expulsar os deputados republicanos do Parlamento, a proclamação imediata da república. No ano seguinte adere à Maçonaria.
Os seus discursos inflamados fizeram dele um orador muito popular nos comícios republicanos. Foi preso por ocasião da tentativa revolucionária de Janeiro de 1908, dias antes do assassinato do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe. Posto em liberdade, continuou a sua acção demolidora pela palavra e pela pena, sobretudo enquanto director do jornal Alma Nacional.
Ministro do Interior do Governo Provisório, foi depois várias vezes ministro e deputado, tendo fundado em Fevereiro de 1912 o partido Evolucionista, que dirigirá, partido republicano moderado organizado em torno do diário República, que tunha criado em Janeiro de 1911, e que também dirigia, opondo-se ao Partido Democrático de Afonso Costa, mas com o qual porém se aliou no governo da União Sagrada, em Março de 1916, ministério de que foi presidente.
Em 6 de Agosto de 1919 foi eleito presidente da República e exerceu o cargo até 5 de Outubro de 1923, sendo o único presidente que até 1926 ocupou o cargo até ao fim do mandato. Nestas funções foi ao Brasil em visita oficial, para participar no centenário da independência da antiga colónia portuguesa. A sua eloquência e a afabilidade do seu trato fizeram daquela visita um êxito notável.
Durante o seu mandato deu-se a Revolução de Outubro de 1922, em que foram assassinados, por opositores republicanos, o chefe do governo da altura, António Granjo, assim como Machado dos Santos e Carlos da Maia. Nomeou 16 governos durante o seu madato.
Os seus amigos e admiradores levantaram-lhe uma estátua em Lisboa, de autoria do escultor Leopoldo de Almeida e do arquitecto Pardal Monteiro, e coligiram os seus principais artigos e discursos em três volumes, intitulados Quarenta anos de vida literária e política, obra publicada em 1934.

Ficha genealógica:
António José de Almeida nasceu em Vale da Vinha, Penacova, em 27 de Julho de 1866 e morreu em Lisboa em 31 de Outubro de 1929. Casou em 1910 com Maria Joana Queiroga, nascida por volta de 1885, de quem teve uma filha.

Fontes:
Joel Serrão (dir.)
Pequeno Dicionário de História de Portugal,
Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1976
Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 1

terça-feira, 27 de abril de 2010

TIC vs PNEP

EB1 de PENACOVA (Cheira) - 2.º ano


A VENDEDEIRA de FIGOS





OLHO lá para o fundo do tempo (que fiz eu de todos esses anos?...) e penso como foi bom o que vivi, como será bom o que ainda me fica para morrer ou para viver… Nesta hora em que o passado se prolonga em mim, neste momento exacto em que não sei o que sou nem o que quero, sinto-me envolvido por vozes e aleluias, por carícias vivas ou por promessas que ficaram nos olhos ou no esboçar dos gestos que as mãos só imaginaram.
E muito ao longe, e tão esplendorosa como nesse dia, no único em que vi, abre-se o meu deslumbramento de rapaz de catorze anos. Nunca aprendi o teu nome, mal te toquei na pele, e és ainda hoje uma das mulheres mais verdadeiras da minha vida. Uma das poucas que morrerão à minha cabeceira…
Estávamos todos no terraço da escola. Não consigo recordar o que aconteceu nesse dia para que às dez horas pudéssemos debruçar-nos na balaustrada da clausura. Não podíamos ir para o recreio do campo de jogos e o nosso entretém ficava-se no interrogar da rua manchada pelo ensombro das árvores alinhadas no passeio fronteiro.
Uns adivinhavam marcas de automóveis, mal os viam surgir à curva da Junqueira do lado de Belém, e assim jogavam a cigarro de onça; outros sonhavam na liberdade que não nos deixavam gozar, imaginando cinemas, raparigas na Baixa e passeios misteriosos que qualquer de nós ainda não conhecera; batiam-se outros em lutas braçais pelo cinturão de oiro do Constant Le Marin, champion de i’Europe et du Monde, como anunciava o França do Coliseu; alguns, ainda, ensaiavam passos de dança, imaginado raparigas concretas que levavam nos braços, entre o ritmo do charleston e do tango…
Eu procurava descobrir o Tejo para além do areal, na ânsia de reinventar o cais da minha terra que é o lugar do mundo onde nasço todos os dias.
Foi nessa abstracção que a tua voz moça e galharda apregoou os figos que trazias no cesto para vender. E logo toda a malta da camarata dos maiores se debruçou ainda mais na balaustrada de pedra, indo buscar-te lá abaixo, à rua, com os olhos perturbados de amos jovem para te erguerem num balancé, onde tu, rapariga descalça, ficaste a vogar nas longas noites da camarata e em romances que nunca pudéramos viver… Ou que nunca mais vivemos com esse encantamento que a tua voz entoada abriu na clausura do internato.
Os mais atrevidos perguntaram-te a como vendias os figos; respondeste a sorrir, vaidosa, por certo, de te veres admirada com tanto fervor por rapazes de escola. Tiraste um fruto da cesta, abriste-o com a graciosidade que só tu podias ter, rapariga descalça, e trincaste-o com apetite guloso, não sei de quê!, porque os teus olhos riram de prazer e de promessa.
Nenhum podia comprar-te figos, por falta de dinheiro, nem era possível ir lá abaixo buscá-los, rompendo o rigor da vigilância dos contínuos.
Foi talvez por isso que a tua intuição feminina quis inventar um jogo para os cavaleiros do bibe azul – o jogo dos frutos e do amor.
- Vocês não vão comprar nada, já sei – gritaste da rua com a mão em concha na tua boca bonita.
- Troco um figo por um beijo – arriscou um qualquer.
Fingiste não ouvir a resposta, ou não chegou lá abaixo porque todos a agarrámos antes de chegar a ti, e voltaste a gritar:
- Mas eu quero dar figos a um de vocês… Deixem-me escolher… A esse, sim, a esse…
E apontaste com o dedo para o cacho de cabeças ansiosas que se juntaram mesmo por cima do sítio donde nos desfiavas.
- Eu?!... – perguntou alguém.
- Não, o outro…
E foste rectificando até chegares a mim, que não dissera ainda uma só palavra, nem fora capaz de arrancar um gesto à exaltação do meu deslumbramento – talvez por isso, e por nada mais, fizeste a escolha. Mas que importa…
Fiquei aturdido e maravilhado. Não o teria ficado tanto se sobre a minha cabeça chovessem estrelas ou se o meu Tejo rompesse até ali para me levar consigo. Abri os braços, hesitei um instante, e sei que me pus a correr, voando pelas escadas de pedra, tonto e feliz, sem cuidar do que me interditavam. Entrei na sala de música, abri a janela e saltei num rompão para junto das grades que me separavam de ti, minha dadora de figos e de promessas.
- Bom dia! – sussurrei com medo de que a minha voz quebrasse o sonho.
- Bom dia!... Gostas de figos?...
-Gosto…
Estendeste um punhado na tua mão, que eu segurei, trémulo, incapaz de te contar o que sentia e o bem que me fazias, meu amor. Só nos mirámos bem nos olhos, não sei se sorrimos, sim, sorrimos, devias esperar de mim outras palavras e as palavras estavam todas escondidas no mistério do meu sangue.
Recuando, voltei a saltar a janela, tu ergueste a mão e eu respondi-te com a minha num aceno tímido. E abalei de novo, mas devagar, tão cheio de ti, que quando o contínuo me agarrou, não pude, não quis, não me interessou tentar a fuga.
Fiquei oito dias sem recreio.
E ainda bem. Porque no silêncio da pena que cumpri, sonhei contigo horas plenas de um lindo romance que ainda hoje me canta no sangue, apesar do tempo deste degredo…
Onde andarás tu, agora, meu amor de tantos anos?!


A Vendedeira de Figos in REDOL, António Alves (1963) Histórias Afluentes, 1ªed., Lisboa, Portugália Editora.

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EB1 de FIGUEIRA DE LORVÃO - 4.ºano
















































segunda-feira, 26 de abril de 2010

O PLANETA DAS MÃES-ROBÔS

O PLANETA DAS MÃES-ROBÔS


Estávamos em 2175.

Muitas coisas tinham mudado na Terra. Tinha-se começado a fazer esqui na Lua, e descobrira-se uma multidão de pequenos planetas desabitados.
Mas, apesar de tais progressos, certas coisas não haviam mudado. As crianças continuavam a fazer birras e os pais a ter crises de nervos. As crianças apanhavam palmadas, eram obrigadas a fazer fichas e recebiam toda a espécie de ralhetes. Mas eis que, algures no universo, um sábio, Gramaticus Cartapus, reflectia no modo de acabar com as palmadas e com os trabalhos de casa… Era o único habitante do asteróide 2024, onde se aborrecia imenso.
“Como atrair as crianças para cá?”, perguntava-se Cartapus, que sentia um enorme desejo de ouvir o seu planeta a ressoar de gritos, de risos e de brincadeiras. Para saber o que mais agradava às crianças, o sábio instalou no seu laboratório um “ecrã de controlo” que analisava os sonhos das crianças da Terra. E esses sonhos eram claros: televisão, gelados, pizzas, jogos de vídeo, nada de castigos, de trabalhos de casa, de peixe cozido, só mimos.
Estava plenamente decidido a eliminar as humilhantes palmadas no traseiro, os aborrecidíssimos trabalhos de casa, as couves, os espinafres e as alfaces, e também as ameaças, os “Olha que só te aviso mais uma vez!”, “Tu vais ver quando o teu pai chegar”, “Mais uma nota dessas e mudas de escola!”…
Para ser franca contigo, Gramaticus Cartapus tinha recebido 2356 palmadas no traseiro – contara-as uma a uma – tinha feito 55000 fichas como castigo e tinha estado por 35 vezes às escuras na despensa, a pão e água, o que explicava bem a sua decisão.
Depois de longos e longos anos de árduo trabalho, Gramaticus Cartapus saiu enfim, de sorriso nos lábios, do seu laboratório. Tinha fabricado uma nova raça de mães e de pais cem por cento electrónicos.
Assim, iria atrair ao seu planeta todas as crianças terráqueas. As mães-robôs eram parecidíssimas com as outras mães, mas com uma postura mais rígida. Não davam palmadas, nem puxões de orelhas, não obrigavam a fazer os trabalhos de casa, não gritavam, não castigavam, não privavam da sobremesa, não proibiam a televisão nem os jogos de vídeo, deixavam comer gelado e chocolates, até mesmo antes das refeições, e não verificavam os trabalhos de casa. Sorriam sempre, davam beijinhos electrónicos e repetiam com uma voz sintética:
— Está bem, meu querido. Estou muito satisfeita contigo! — e o sábio Gramaticus esfregava as mãos de contente.
Quando as mães-robôs foram experimentadas sobre o asteróide, Gramaticus fez publicidade delas nas escolas da Terra:
— Venham morar no asteróide 2024. Ofereço-lhes uma mamã-robô, sempre sorridente,
que nunca ralha!
Ele dava-lhes um código secreto que lhes permitia contactá-lo rapidamente. Foi assim que as crianças, as caprichosas e as que estavam sempre a apanhar palmadas, começaram a povoar o asteróide 2024.
Um dia, Enricus-Brutus, um rapazinho de sete anos, muito desobediente, ficou farto, FARTO da sua mãe, FARTO das fichas da escola, FARTO do peixe cozido, FARTO de escovar os dentes. Marcou o código secreto e de imediato apareceu no seu quarto o sábio Cartapus.
— Anda para o meu asteróide-robô! — disse-lhe. — Lá não há peixe nem favas, nem deitar às oito horas, nem fichas para fazer. Não vais lamentar-te mais!
Enricus-Brutus partiu imediatamente. Ao fim de trinta segundos de viagem (tempo médio para uma viagem interplanetária em 2175), uma mãe electrónica veio recebê-lo a sorrir.
— Dá-me o teu casaco. Estou contente contigo, meu querido. És maravilhoso. Estás com bom aspecto. Como estou contente.
Tinha-lhe preparado a merenda: bolachas recheadas de chocolate, bolo de chocolate e um bom leite com chocolate quente e com sete colheres de açúcar. Enricus-Brutus ficou muito contente. Ainda mais quando a sua nova mãe ligou três televisores ao mesmo tempo, duas consolas de jogos e um computador portátil. Por fim, quando pediu de beber, ela deu-lhe uma enorme garrafa de Coca-Cola. Enricus-Brutus atirou-se para cima do sofá, com as sapatilhas sujas, sem um obrigado e deu um grande arroto por causa da Coca--Cola. Entretanto, a mãe-robô tinha ido para a cozinha para lhe preparar o jantar: mousse de chocolate com gelado de cinco sabores.
A vida no asteróide 2024 reservava todos os dias a Enricus-Brutus surpresas agradáveis. É claro que a escola continuava, mas lá também distribuíam todo o tipo de guloseimas e nunca havia castigos. Enricus-Brutus não tinha pressa nenhuma de voltar para a Terra. E todos os dias, quando ele chegava da escola, a mãe-robô dava-lhe beijos, sempre os mesmos (um na testa, dois nas faces), ligava os três televisores, as duas consolas de jogos, o computador portátil, e ia logo para a cozinha preparar o empadão de mousse de chocolate, leite com chocolate e as pizzas. Quando ele trazia más notas no ditado, ela tinha sempre um sorriso nos lábios.
— Estou muito contente contigo, meu querido — dizia. — Vai brincar com o que quiseres.
Na escola, os professores estavam agora a dar menos 2, menos 3, menos 10 às crianças. Mas, como eram professores-robôs, continuavam a felicitar os alunos:
— Muito bem, Leopoldo, menos 3 é óptimo. Quero ver a tua mãe para lhe propor que passes de ano.
Enricus-Brutus nunca mais se esforçou na escola. Um dia entrou em casa escoltado por um polícia-robô (tinha roubado trinta e três discos numa loja, e quarenta quilos de bombons).
Enricus-Brutus pensou que a mãe ia pô-lo de castigo. Mas ela deu um salto de satisfação.
— É assim mesmo! Estou muito contente contigo!
E, um outro dia, quando Enricus-Brutus chegou da escola com o blusão rasgado, sem sapatos e com os dois olhos negros porque tinha apanhado uma sova de um dos mais velhos, ela olhou-o cheia de orgulho.
— És fantástico! Estou tão contente!
E foi para a cozinha fazer batatas fritas.
As crianças, que se apercebiam de que tudo era rigorosamente igual, deixaram de ir à escola e de fazer fosse o que fosse.
Quando o quarto estava desarrumado, o que acontecia sempre, Enricus-Brutus seguia as instruções de Cartapus: dava um pontapé à sua mãe-robô, para desencadear o programa “limpeza”.
— Obrigada, meu amor — dizia então a sua mãe electrónica. — Por favor, vai ver televisão, enquanto eu arrumo o teu quarto.
Uma vez, Enricus-Brutus chegou a casa à meia-noite, por ter ficado em casa de um amigo a jogar computador.
— Já chegaste, meu amor? — disse ela. — Estou muito contente contigo. Ainda queres ver televisão ou vais já deitar-te?
Enricus-Brutus franziu as sobrancelhas: então ela nem sequer tinha ficado preocupada por sua causa? A sua verdadeira mãe, essa, teria tido uma grande discussão com ele e tê-lo-ia origado a prometer que não repetiria a façanha. Deitou-se, sentindo um ligeiro mal-estar no peito. Muito depressa o mal-estar aumentou. Enricus-Brutus teve uma indigestão de batatas fritas, gelados, gomas, e pizza.
Num dia em que estava com uma grande dor de barriga, foi falar com Cartapus.
— Estou farto — disse Enricus-Brutus. — Sinto-me enjoado, já não consigo engolir nem meia colher de gelado.
O sábio Gramaticus coçou a cabeça: não tinha pensado nos casos de indigestão, mas tentou mudar a programação dos cozinhados. Naquela mesma noite, Enricus-Brutus viu a sua mãe-robô dirigir-se para a cozinha e tirar ingredientes uns atrás dos outros. Bolachas, farinha, trigo, chouriço, queijo, iogurtes, pimenta, sal, tabuleiros, o líquido lava-loiça, guardanapos… E dizia:
— Vamos fazer uma óptima pizza!
Em seguida, correu em direcção a Enricus-Brutus para o meter também a ele na pizza! Enricus-Brutus fugiu para casa do seu amigo Marius, onde a mãe-robô o recebeu:
— Fugiste de casa? Fico muito feliz. Vai ver televisão, que já te trago pizza.
No seu laboratório, Gramaticus Cartapus arrancava os cabelos: por que é que as coisas estavam a correr tão mal? Porque é que as crianças não se sentiam felizes? Porque estavam doentes? A comida não parecia boa para os pequenos terráqueos. Tinham ficado muito gordos, pálidos, sem músculos, e os dentes estavam a ficar-lhes todos pretos.
Consultou o seu “ecrã de controlo”: os sonhos das crianças tinham mudado. Agora queriam feijão verde, carne, peixe cozido, cálcio e proteínas. Queriam deitar-se cedo e escovar os dentes depois de comer.
Cartapus tocou a sirene especial para reunir todas as mães, a fim de as operar com urgência. Quando acordaram, começaram a descascar e a cortar às rodelas tudo o que lhes vinha à mão.
Vocês precisavam de ver o estado do planeta, feito papa, partido em mil bocados! O planeta acabou por explodir: um verdadeiro fogo de artifício-robô! As crianças caíram sobre a Terra, saltaram para os braços das suas verdadeiras mães, saboreando as carícias, que em nada se pareciam com as outras, os seus beijos, que não eram forçosamente um na fronte e dois nas faces, mas também nos cabelos ou no nariz. Ouviu-se então:
— Mamã, ralha comigo quando eu não fizer os trabalhos de casa!
— Arranja-me peixe! E salada!
— Dá-me a escova de dentes!
— Quero deitar-me cedo!
Todas as crianças do asteróide 2024 pediam regras e, portanto, castigos, felicitações sinceras, alguns chocolates mas não em demasia. Já não era possível passarem os dias só a comer chocolate e pizzas, a jogar computador ou game-boy sem fazerem mais nada... o chocolate parece ainda melhor se for comido depois da sopa e do peixe. Foi assim que as mães-robôs desapareceram definitivamente e as mães verdadeiras retomaram funções.
As verdadeiras? Tu bem sabes, são aquelas que são meigas e severas, que têm um olhar que ralha ou que sorri, e dizem: “Tu vais ver”, “Se continuas, mudas de escola” e “Só comes o gelado DEPOIS de teres comido o teu arroz e não antes”…
E foi assim que as birras da noite e as crises de nervos, as crianças desobedientes e as mães severas, continuaram a existir durante longos séculos.
O que aconteceu a Cartapus? Bom, também veio para a Terra… e decidiu nunca mais mexer nas máquinas humanas…


(Tradução e adaptação: Sophie Carquain, Petites histoires pour devenir grand, Paris, Albin Michel, 2003)

LENGALENGA - BURRO

Arre burro
De Loulé
Carregado
De água-pé

Arre burro
De Monção
Carregado
De requeijão

arre burrinho
pra S. Martinho
carregadinho
de pão e vinho

Arre burrinho
Arre burrinho
Sardinha assada
Com pão e vinho

TIC vs PNEP

TIC vs PNEP

EB1 de TRAVANCA (São Pedro de Alva)











































sexta-feira, 23 de abril de 2010